domingo, 31 de outubro de 2010

Capítulo 6 – Pacto

A viagem de volta fora um tanto quanto tensa. Indubitavelmente as duas jovens se esforçaram ao máximo, não deixando – ou pelo menos tentando – transparecer preocupação. O relacionamento ia bem, é verdade, mas a obrigação que possuíam tornava-se mais e mais constante em suas conversas.

Em Mônaco, Michiru percebera que por mais distante que estivessem do local onde se desencadearia a batalha, a missão sempre as encontraria. O Aqua Mirror mostrara rostos de jovens, que a Sailor dos Mares não conseguia distinguir muito bem, até porque logo as mesmas faces transformavam-se em vultos ou sombras, apontando que mais vítimas passariam pela mesma tragédia, na qual o rapaz no autódromo, teve de enfrentar.

No avião, Neptune lembrava das últimas revelações mostradas em seu espelho, pensou em contar para sua parceira, mas desistiu da idéia quando viu o rosto da mesma. Haruka estava dormindo, e parecia sonhar os sonhos dos justos. Tão em paz; pelo menos por enquanto. Contudo, Michiru não sabia que as visões que tivera, perturbavam também o sono da velocista. Ela tinha medo.

Bem, a apreensão era uma sensação completamente cabível para o que as aguardava em Tóquio. Muitas batalhas viriam a ser traçadas naquele lugar. Todavia, o medo de Uranus estava focado naquela que a acompanhava...

- Haruka? Acorde, nós chegamos. – dizia enquanto passava a mão pelos cabelos da jovem.

- Hã? A-ah...sim, sim... Estou tão cansada... – levanta-se da poltrona espreguiçando-se.

- Você dormiu boa parte da viagem, por que raios está cansada? – ajeitava a gola da camisa da outra jovem, que sorria.

- Bom, digamos que o sonho que tive consumiu minhas energias... – ria maliciosamente, enquanto empurrava o carrinho com as malas.

- Ah, é? E com o quê sonhou? Não foi com aquela aeromoça loira, foi? – perguntava uns dois passos adiante de Haruka – Estava se dando tão bem com ela...

- M-Michiru! – apressa-se com o carrinho, seguindo-a – Claro que não! A garota com a qual sonhei é muito mais interessante... – sorri.

- Ah...e qual a relação com “consumiu minhas energias”? – esboçava um sorriso, que Haruka percebera.

- Hum...é proibido para menores de dezoito... – ria, colocando um dos braços em volta dos ombros da outra garota.

- Você também é menor de dezoito, engraçadinha...

Na verdade, o sonho da jovem loira nada tivera de cômico ou provocante. Sonhara com Michiru de fato, entretanto vira aquela que amava lutar contra o que parecia ser o Enviado do Mal e perecido, salvando sua vida. No momento que Neptune acordou-a no avião, decidira que nada ia comentar, talvez, se inventasse uma história boba, Michiru pudesse rir, e vendo sua alegria, seu coração ficasse menos contrito...
[...]

- E-eu não sei se vou conseguir... 

- Ah, princesa...é só ir devagarzinho. Mantenha-se nessa posição, sim?

- Você fala isso porque já tem experiência...

- Com uma “sensei” como eu, você vai se tornar mestra nisso... – ria.

As duas jovens se encontravam em um estacionamento vazio, onde Haruka – como prometera – ensinava os primeiros passos à Michiru, que se sentia pouco à vontade ao ficar no controle do carro da parceira.

- Ei Michiru... – falava com um sorriso levado – Se alguém nos ouvisse, poderia pensar que estávamos falando de outra coisa...

- S-só você mesmo pra pensar numa coisa dessas... – ruborizara.

- Suas reações são tão divertidas princesa... – ria, ajeitando o retrovisor.

- Depois não sabe por que tem a fama que tem... – provoca-a.

- Ué...não foi você mesma que disse que a impressão que eu causo supera qualquer fama?

- Exato, mas às vezes você não se esforça pra mudar certa fama não é? – perguntava arqueando uma das sobrancelhas.

- B-bom...mas...

- Estou te provocando...baka... – sorria, para em seguida beijá-la.

- “Michiru-san”, como sua sensei, eu posso acabar a aula mais cedo, não é? – beija-a, enquanto a garota livrava-se do cinto de segurança, dando mais liberdade ao próprio corpo para virar-se.

- Bom, então acho que estou dispen... – vira-se, de súbito.

- Você...

- Sim.

Correndo, as duas se retiram dali. Haviam sentido uma presença maligna. Pegando rapidamente o Aqua Mirror, e já transformada, Sailor Neptune, atenta na direção da nova vítima. Seguindo um brilho vermelho, Uranus acena para sua parceira, que logo chega ao local.

- Eu vou pela direita, me dê cobertura Neptune – sussurra Uranus avistando o inimigo.

- Espere, é imprudente atacar agora – diz segurando um dos braços da parceira – No local onde ele se encontra, se o nosso ataque for desviado, pode atingir inocentes.

- O que sugere então? Não temos muito tempo, logo ele vai se aproximar de uma área mais movimentada.

- Uma de nós pode servir de isca, atraindo-o até o estacionamento, que está vazio. Quando ele chegar, nos juntamos novamente e o atacamos de uma vez, combinando nossas forças.

- Está bem, serei a isca então, sou mais veloz e consigo manter uma distância segura até que ele esteja no local combinado, está bem?

Após a resposta afirmativa de sua companheira, Uranus vai ao encontro do monstro, outrora, uma jovem estudante que saía de mais um dia de aula, aparentava ter menos de quinze e fora possuída enquanto esperava o ônibus, perto dali. A criatura logo nota a presença da Sailor e a ataca.

Uranus desvia. O monstro aparenta cair na armadilha, pois a segue até o estacionamento. Não perdendo tempo, Sailor Uranus desfere seu primeiro golpe. Certeiro. Atordoada, a criatura cai; hora de Neptune invocar seu Maremoto, e o faz. Precisa. Uranus prepara-se para atacar novamente, mas antes que o faça, a Sailor dos Mares a impede, indicando que o monstro desaparecera, dando lugar a uma jovenzinha.
Parecia dormir apenas. Neptune aproximou-se da garota, sentiu sua pulsação e fez um gesto para que sua parceira também chegasse perto, avisando que ela estava só inconsciente. Cautelosamente, Uranus observa a menina, enquanto a outra Sailor investigava quem seria a vítima. Em um dos bolsos, encontra a carteira de estudante. Só tinha doze anos.

- Ara...é só uma crianç – “Michiru!!” – grita Uranus empurrando sua parceira longe.

A menina tinha os olhos vermelhos – talvez na última tentativa do monstro de possuí-la – e seus dentes trincavam. Numa fração de segundo, Uranus estava sendo estrangulada pela criatura. Antes que Neptune conseguisse se mover, porém, a Sailor dos Ventos em um contragolpe, atira a jovem por sobre seus ombros, que, mais uma vez cai inconsciente. O monstro a libertara.

- Uranus!! – corre até sua parceira, que tossia, com a mão na garganta.

- E-eu, estou bem...Neptune, não se preocupe... – subitamente, é abraçada pela outra jovem, que parecia esconder o rosto em seu peito.

- Por que fez uma loucura dessas Uranus?! – abafava um grito, ainda abraçada com Haruka.
- Eu não poderia deixar você se ferir...Michiru.

- Foi tudo culpa minha!! Por um descuido meu você quase... – não conseguira pronunciar a última palavra e suas lágrimas já escorriam pelo rosto.

- Você... – fazendo a jovem encará-la – É a única por quem eu arriscaria a missão, Michiru... – desviava o olhar.

- Haruka... – a olha surpresa.

- Vamos, temos de levar a garota em segurança... – sorria.

Em silêncio, Neptune e Uranus se voltam para a menina, que aos poucos estava acordando. Perto dali, no metrô elas deixam a jovem – que as olhava assustada – para ir finalmente para casa.

- S-sua mão...está sangrando...

- Ah...isso. Bom, acho que a arranhei quando caí...não se preocupe.

“As coisas podem se complicar, se eu não fizer algo.” – pensava a Sailor dos Mares enquanto entrava no carro da outra jovem. Sua preocupação advinha do comportamento que Uranus mostrara em batalha. Ela a protegera. Tempo atrás, Neptune havia feito a mesma coisa pela companheira, porque a amava também. Todavia, ela tinha o pretexto de que estava “recrutando” a velocista para desempenhar a missão destinada.

Haruka fizera aquilo claramente pelo sentimento que possuía. Isso não era bom. Ou melhor, isso não era...adequado. Seu coração estava dividido. Por um lado, ficara imensuravelmente feliz com a declaração da loira; por outro, o futuro de suas missões a preocupava. “E se isso tornar a acontecer? E se ela ferir-se gravemente da próxima vez que se arriscar por mim? E se...eu perdê-la?”.

A inquietação de Michiru, é percebida por Haruka, que ainda dirigindo à caminho de seu apartamento, pergunta:
 
- Algum problema Michiru?

- Nós...precisamos conversar... – revelava sem encarar a jovem.

[...]

Já no apartamento, Michiru dirige-se à varanda, observando o trânsito de Tóquio. “Ela não faz idéia...” – pensava cerrando os olhos, relembrando por um momento o que acabara de passar. A outra jovem, voltava da cozinha, onde deixara os copos, ainda com um pouco do suco que tinha servido. Vira Neptune na varanda, tão imersa em seus próprios pensamentos. Não gostava de vê-la assim. Normalmente respeitava o silêncio da garota, apenas a abraçando sem dizer nada. Costumava adiantar; quando a Sailor dos Mares sentia os braços de Uranus envolvendo seu corpo, era como se fosse puxada novamente à superfície. Salva de ser tragada por pensamentos sombrios. 

- O que há Michiru? – quebrara o padrão. Dessa vez perguntava sentada no sofá.

- Haruka...foi a última vez que isso ocorreu... – dizia ainda de costas para a jovem. Doía-lhe tanto pronunciar tais palavras.

- Isso...o quê? – sua expressão ficara séria, e por um momento ameaçara levantar do sofá, quando viu que a própria Michiru sentara-se ao seu lado.

- Não podemos colocar a missão em risco. Sua atitude hoje, como Sailor, não pode se repetir...nós não temos o direito de interf... 

- Você também fez a mesma coisa Michiru! No autódromo... – interferia com um pesar que a outra ainda não tinha visto. Desviava o olhar, procurando esconder seu desespero.

- Eu sei o que fiz Haruka, não é necessário me lembrar. Não me arrependo do que fiz, mas...

- E você pensa que eu me arrependo?! Eu faria tudo outra vez! – a interrompia alterando sua voz e levantava do sofá com a cabeça baixa.

- O problema é justamente esse. Por favor, entenda. Se ficarmos preocupadas uma com a outra em batalha...as chances de fracasso aumentam. Por isso, se alguma coisa acontecer comigo – pausa por um momento, levanta do sofá e se aproxima de Haruka – Eu quero que siga.
- Não pode me pedir isso, Michiru... – falava baixinho, e lentamente se aproximava da garota – Não me proíba de te proteger...

Michiru a fitava, tentando conter suas lágrimas, talvez se conseguisse parecer forte, Haruka lhe atendesse. Em vão. Uma, depois outra...e mais uma lágrima caía. Sua cabeça pendia; já que não podia controlá-las, pelo menos que a velocista não as visse escorrendo pela face. Porém, um inesperado abraço, faz a violinista perder o controle que tanto lhe custara manter. Ela chora. A voz de Haruka saía em tom calmo, seguro e gentil. Não era comum ouvi-la assim, mas também não era comum estar apaixonada...

“Eu prometo Michiru...tem a minha palavra. Não porei em risco a missão...” – abraçava-a ainda fortemente. “É nosso pacto. Mas o mesmo vale para você” – completava. A jovem consente com o que acabara de escutar. Uranus entendera os motivos de sua amada. Dos cinco estágios, estava no de “Aceitação”. Passara rapidamente pelo de raiva e negação e agora entendia que o sentimento que as unia era eterno. O que ela não notara, é que descumprira a promessa, só mais uma vez. Naquele instante, Michiru fora salva. “Mentirosa...” – pensava a violinista, que não continha um sorriso fraco.

(continua)
 

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Capítulo 5 – Mônaco (parte 2)

Capítulo 5 – Mônaco (parte 2)

Os gritos dos fãs, as bandeiras erguidas e finalmente o alto-falante, anunciavam o fim da corrida. Dois pit stop e um acidente de outro carro não tiraram a ânsia de vencer da garota. Era uma das primeiras experiências da velocista, isso disputando com profissionais. O resultado, porém, não fora aquele que ela esperava. Segundo lugar. Porém, Mônaco aclamava-a mesmo assim, era um passo fenomenal para qualquer piloto em formação correr ao lado de veteranos. 

Talvez a imaturidade da loira a impedisse de enxergar isso. Irritara-se tanto que mal falara com seu treinador. Yoshiro, entretanto, já estava acostumado a esse tipo de reação, o gênio de sua protegida poderia ser terrível. O homem apenas suspirou quando a viu passar; deixaria que descontasse sua frustração nos pneus do carro. Chutava-os sem cerimônias, num local mais isolado do autódromo. Michiru, que inocentemente ia ao seu encontro, radiante pelo resultado, logo mudou de expressão quando viu a parceira tirar a jaqueta vermelha e jogá-la no chão. Contudo, antes que pudesse dar mais um passo, alguém comentou:

“É melhor não ir agora, espere até ela chutar alguns pneus...”

A voz grave fez com que a violinista olhasse para trás. Descobrira ser Yoshiro. Estava com as mãos nos bolsos enquanto fitava a corredora ao longe.

- Murata...san? – a jovem torcia para que o sobrenome estivesse correto.

“Acho que não fomos devidamente apresentados, Tenoh costuma esquecer dessas formalidades...”

- É verdade. – sorria – Mas não seja por isso, me chamo Kaioh Michiru.

“Michiru? Ouvi Tenoh dizer esse nome durante alguns intervalos dos treinos. Eu só não sabia que era a Michiru dos Kaioh.” – Yoshiro viu a jovem desviar brevemente o olhar, parecendo se incomodar quando o sobrenome foi mencionado.

- Infelizmente, é um mal que me persegue. – dizia com um sorriso leve mesmo não estivesse nada confortável ao ser lembrada do nome da família. Pensara que estaria livre desse tipo de situações em Mônaco. Muito embora, não pudesse culpar o homem. Era seu conterrâneo e como tal, provavelmente conhecia sobre a Família Kaioh.

“Acho que eu gostava mais dela quando não falava tanto...” – Murata suspirava, enquanto a Sailor dos Mares ria, discretamente. Observavam a loira entrar num dos estacionamentos privados do autódromo. Lá, andava em círculos, provavelmente praguejando.

- Murata-san, desculpe perguntar, mas há quanto tempo se conhecem?

“Desde o final do ano passado. Como treinador, sempre andei pelos colégios à procura de talentos. Tenoh era uma das poucas que possuía verdadeiro potencial... nunca vi alguém correr ou pilotar daquela forma.”

- Imagino que foi difícil convencê-la a participar de competições mais sérias...

“Um pouco. Mas na época parecia querer sua independência o quanto antes. Sua relação com a família não era das melhores... Ela já deve ter comentado com você.”

- Bom... – Neptune desviava o olhar, Uranus sempre evitava falar sobre seu passado. 

“Sabe, quando ela corria no antigo colégio, várias garotas espremiam-se na grade que contornava a pista. Como gritavam... meus ouvidos ainda doem só de lembrar. Seguravam cartazes e acenavam com suas toalhas de Educação Física. Esperavam só o apito final, para entregar cartinhas e outras coisas. E ela, mesmo se aproximando para receber aqueles objetos, ao chegar no vestiário jogava tudo no lixo.”

- Ela... disse o motivo? - perguntou Michiru esforçando-se para fazer sua ansiedade em saber a resposta casual.

“Eu tomei a liberdade de perguntar, afinal aquelas garotas tinham se esforçado para fazer algo por ela. Foi quando me respondeu...”

Elas não estão interessadas em mim realmente, só pensam que estão... tudo que possuem é a minha imagem. Não me conhecem.

“Então eu respondi que não a conheciam, porque ela mesma não se deixava conhecer. Por isso, como poderia querer que vissem além de sua imagem? Ela pareceu refletir um pouco, até que disse...”

Esse tipo de coisa notamos no olhar, nenhum dos que vi se conectou comigo... Além disso, Todas as vezes que iniciaram algum papo comigo, não tinha conteúdo e os elogios...eram vazios.
Por um momento, Neptune ficara sem fôlego ao ouvir o que o homem dissera. Poderia Haruka, mesmo inconsciente, ter esperado por ela? Seria a ligação de eras que havia despertado? A expressão pensativa da jovem fora reparada pelo treinador que, intrigado resolvera comentar.

“Então você é a causa...” – afirmara o homem sem reservas.

- Não entendi, Sr. Murata.

“Aquela garota tem outro olhar atualmente. Sei que não sou um exemplo de sociabilidade, mas antigamente eu daria uma festa se conseguisse um bom dia daquela criança.” 

- Não acho que eu faça tanta diferença assim, Murata-san...

“Saiba que, ela não convidaria ninguém que não gostasse para fazer companhia nessa viagem. Disso eu sei.”

Michiru sorriu, antes de virar o rosto vermelho. Internamente agradecia ao homem pelas valiosas informações. Aquela conversa fizera sentir-se tão importante no relacionamento com a outra Sailor... O fato de ser o pivô da mudança da loira lhe fazia imensamente feliz. Pois, a própria Haruka, lhe dera um motivo também pelo qual lutar. Ainda com um sorriso no rosto, descia da arquibancada, indo finalmente ao encontro da velocista.

[...]

- “Ok... sem parabéns, então...” Haruka?

- Hum? Ah, Michiru... não sabia que estava aí...

- Ah, não se acanhe, pode continuar a amaldiçoar. – a jovem riu – Eu aprendo rápido. – Neptune tentava amenizar o clima, mas notara que sua companheira não rira. – Me perdoe, não falei pra zombar de você, Haruka.

- Eu sei.

- Haruka, outras oportunidades estão por vir. E sabe, eu não vi diferença entre você e os outros, estão no mesmo nível. Hum, pensando bem a única diferença é que você é incomparavelmente mais atraente. – Neptune deixara seu tom de voz o mais gentil possível. Sorria ao ver a corredora suspirar e se encostar no veículo.

- Eu sinto que... não me esforcei o bastante.

- Como é?! Ora, Haruka...que exagero... Se você acelerasse mais um pouco aquele...treco, eu ia ter um ataque cardíaco. – brincava.

- Hum, então ficou preocupada comigo? – aproximava-se sorrindo. A violinista comemorava, conseguira mudar a expressão da parceira.

- Se eu fiquei preocupada? A cada volta meu coração dava cambalhotas... – riu. – Haruka, sei que no momento ainda está bastante chateada, mas depois vai perceber o ótimo resultado que conseguiu. E... ainda que não me veja, saiba que sempre estarei torcendo por você, Te-noh. – sorria.

- Arigatou. – falava, mais calma pelos dizeres da jovem – Antes que me chamem ao pódio, o que acha de... um prêmio de primeiro lugar?

- Hum... e o que seria? – envolvia a loira passando os braços pelo seu pescoço.

- Ora, seus beijos...

Neptune sorria à sugestão e provocava a corredora passando levemente seus lábios nos dela. Afoita, Haruka puxou-a pela cintura diminuindo ainda mais a distância. Contudo, antes que pudesse concretizar o ato, um dos alto-falantes citou os nomes dos pilotos, para que comparecessem ao pódio.

- Ah, princesa...eu tenho que ir.

- Certo. Boa sorte... – Neptune sorriu e apontou a multidão que se aglomerava perto do pódio. Haruka soltou o muxoxo e foi ao encontro do alvoroço.

Cumprimentando os colegas, a velocista sobe ao pódio para receber o enorme cheque representativo que comumente davam aos pilotos; os fotógrafos se amontoavam em frente para conseguir uma boa foto e meninas gritavam pedindo autógrafos aos pilotos de Fórmula 1. Escapando de uma estressante coletiva, a loira respondera algumas perguntas básicas sobre como se sentira ao correr ao lado de grandes nomes. Aos poucos, a jovem conseguiu se retirar da agitação para ir ao encontro de Michiru...

- Acho que sobrevivi. – suspirava.

- Uhum...e quase que aquelas "tietes" não saem... – Comentou Michiru olhando-as com reprovação.

- Ora, mas o que é isso? – apontava para o rosto da jovem. 

- Isso o quê?

- Que estranho... – se aproximava – Isso é...ciúme de mim no seu olhar? – disse Haruka com um sorriso carregado de petulância.

- N-Não! – a jovem cruzou os braços, virando-se para esconder seu rubor. – O que é tão engraçado? – disse Michiru ao ver Haruka gargalhar. A outra Sailor apressou uma explicação – Eu não estou...não foi por...argh!

Em vão.

- Ei...não precisa ficar bravinha, só estava brincando...elas não significam nada pra mim Michiru. – disse a corredora puxando pela cintura – Vamos, eu quero que me faça esquecer da derrota de hoje. Sei que só você consegue...

- Consigo é? – Michiru deu um largo sorriso, deixando-se envolver num abraço.

- Hã? O que raios estou fazendo no autódromo? – olhava para cima, brincando.

- Está indo embora. Aliás, nós estamos.

- Bom...pra onde vai me levar? Deixo você dirigir o carro que aluguei... – a jovem sorriu mostrando-lhe a chave.

- Ara, se eu fosse você, não deixaria...nem pelo carro, e nem pela nossa própria vida...

- P-Por que? Você sabe dirigir, não sabe?

- Não! – ria – Pra você isso deve ser mais fácil do que “andar para frente”...mas eu não faço ideia...

- Oh, perdão... Bom, mas saiba que não é difícil, se torna tão automático depois de um tempo, que você "só dirige", entende? Façamos o seguinte, quando voltarmos ao Japão, eu te ensino. Que tal?

- Não se preocupe, eu entendo sim. Hum, eu só não sei se vou conseguir... você vai ter que ser muito paciente... 

- Como você foi comigo? Se teve paciência pra ser minha “sensei”...ser a sua, é um prazer pra mim. Então, pra onde vamos? Você escolhe, eu dirijo. Se bem que, temos uma conversa pendente, lembra? Antes que me chamassem ao pódio... – disse Haruka, colocando o braço em volta dos ombros dela e puxando-a novamente para perto.

- Não sei, faz tanto tempo que eu vim aqui que... – Michiru se calou ao finalmente perceber o que a velocista desejava e não pôde evitar corar.

- Michiru?

- S-sim? A-ah...então...é...escolha você...

- Bom...deixe-me ver... Que peça estaria passando hoje? – entrando no carro, a Sailor pega no porta-luvas o jornal que continha a programação cultural do dia – Cinema, concertos...estou na dúvida e... Oe princesa, sente também.

- S-sim. – olhando para o chão, se senta – “Será que desistiu da idéia? Talvez só estivesse brincando. Tola. É melhor que a relação esteja nesse ritmo, quer dizer, se formos depressa demais, podemos...”

- Por que está corada? – a velocista encostava seu nariz no da jovem, que assustada, se afastava rapidamente.

- P-por coisas assim! – corava. Uranus sorria, adorava desbancar a garota.

Olhando mais uma vez para o jornal, a corredora nota um evento que poderia interessar sua parceira. Um dos museus da cidade expunha esculturas de um artista novato. Uranus realmente não estava tão entusiasmada pela notícia que lera, mas divertir sua amada era o mínimo que podia fazer. Afinal já havia sido compensada, a companhia de Michiru era tudo o que poderia querer naquele momento.

- Ei, está havendo uma exposição neste museu. Você quer ir?

- Claro! Mas não tem compromissos a cumprir?

- Não, estou à sua disposição, princesa.

- Essa cordialidade toda é influência por Mônaco abrigar a realeza? – ria.

- Hum... não, eu sou perfeita assim naturalmente. – Uranus concluía cinicamente, passando a mão pelos cabelos. Michiru suspirava. Aos poucos se acostumara com as crises narcisistas da parceira.

- Sua cabeça não esquentou demais dentro daquele capacete?

- E-Ei!

Após um merecido descanso no hotel, as garotas deixavam o quarto, finalmente dando-se ao luxo de entretenimento. A velocista sorria ao olhar para o lado e ver a empolgação de Michiru. Neptune talvez pensasse ser impossível arrancar a amante e passar um dia em um museu. Agora estava radiante ao pensar que a iniciativa não tinha sido dela. Algumas quadras depois as duas avistam o local. Pequeno e de bom gosto, como muitos dos estabelecimentos da cidade.

A Sailor dos Mares exibia um sorriso ao colocar os pés no lugar. Passos lentos logo ganharam velocidade. Reconhecera dois quadros. Não era seu pintor favorito, mas suas obras eram intrigantes. Enquanto a jovem fazia uma análise mental do que vira, Haruka rodeava uma escultura de madeira perto dali.

A peça prendera sua atenção dada sua complexidade. Na base, uma boca humana aberta mostrava um punhal saindo dela. Na ponta, minúsculos órgãos. 
Nesse meio tempo a violinista parava em frente a outro quadro. Tema bíblico. Salomé dançando ao lado da bandeja com a cabeça de João Batista. Enquanto observava a composição de cores da tela, a loira juntava-se novamente a ela.

- Acho incrível o trabalho de sombras nesse. comentou Michiru sem tirar os olhos da tela.

- E eu nunca vi alguém tão feliz dançando ao lado de uma cabeça. – Uranus dizia despreocupadamente com uma das mãos no bolso, enquanto Michiru tentava não rir alto.

- Sabe, tive oportunidade de conversar um pouco com Murata-san hoje.

- Verdade? Tenho medo de saber o quê... – riu a jovem.

- Ora, Murata-san é uma boa pessoa, Haruka.

- É!? Nunca notei... – Uranus colocava uma das mãos no queixo, pensativa. Neptune sabia que a Sailor estava brincando, mas tentou esclarecer.

- Pode falar o quanto quiser, mas acho que se gostam. – a corredora sorriu, era bem verdade.

Michiru parecia incansável. Andando de um corredor a outro maravilhava-se com cada obra. Era irrelevante se achava brilhante ou não. A simples contemplação das diversas – e por vezes bizarras – formas, cores, texturas e sentimentos de cada artista impressos em cada quadro lhe era prazeroso.

Haruka cumpria bem seu papel, seguindo-a por toda galeria, ouvindo atentamente os comentários perspicazes da jovem. Sorria enquanto escutava, pois cada palavra saía de maneira apaixonada. Michiru era uma artista afinal. Uma tela em especial chamou a atenção da violinista. Duas silhuetas acomodavam-se num pequeno cubo; este se encontrava dentro de um maior. Não tinha título, só a data. Pensativa, Neptune fitou a pintura por alguns minutos, antes de despertar e ver porque seu coração acelerara. Haruka, ali, naquele corredor havia entrelaçado seus dedos nos dela. Olhava fixamente para o quadro e, mesmo corada não mudou sua ação.
Talvez, a expressão tão concentrada da Sailor dos Mares tivesse atraído-a. Não importava. O único e quase inaudível som que se escutara era da respiração das jovens; especialmente o da violinista que estava admirada pelo ato. Seu coração aos poucos se acalmava, quando ouviu uma breve e inesperada sentença.

- Te amo. – Uranus confessara sem desviar o olhar do quadro. Se encarasse a jovem ao lado, talvez sua coragem desaparecesse. Acompanhar a Sailor naquela tarde fora decisivo. Cada gesto, sorriso e comentário provaram o quanto amava aquela garota. Por que privá-la de ouvir algo que sentia com todas as suas forças?

Aos olhos de Neptune o espaço colorido da galeria tornara-se cinza por alguns segundos. Aquela declaração fizera o tempo parar. O coração por sua vez, batia descompassado. Diminuindo a distância, Michiru deixou a mão da velocista para segurar seu braço. Encostara a cabeça no ombro da parceira e fitou o chão. Superando o nó na garganta e o rubor, a jovem, quase sussurrando dizia: “Eu também te amo. Muito.”

Haruka deixava escapar um sorriso, para em seguida fitar Neptune. Suspirava. Finalmente conseguira pôr em palavras o que sentia. E, antes que o silêncio se tornasse incômodo, Haruka o cortou, fazendo um comentário qualquer.
- Amanhã iremos voltar ao Japão... O tempo realmente passou voando por aqui. – ao falar, a loira notara a violinista absorta em pensamentos. – Em que está pensando? – indagava com um sorriso.

- Pensando não, “sentindo”... – a Sailor olhava brevemente o Aqua Mirror em sua bolsa.

- Viu algo, Michiru?

- Haruka... precisamos voltar o quanto antes pra casa, o mal atacará novamente...em breve. Fico apreensiva ao pensar quem será a vítima.

- Então, hora de colocar meu treinamento à prova... Vai ser interessante.

(continua) 

sábado, 16 de outubro de 2010

Capítulo 5 – Mônaco (parte 1)

Capítulo 5 – Mônaco (parte 1)

- Maldição, estou toda quebrada da viagem Michiru... deveriam fazer poltronas mais espaçadas...uns quatro metros no mínimo.

- Ara, não quer um avião só pra você também?

- Mas que idéia excelente!

- Ai ai...

Descendo do carro, Haruka acena para o funcionário do hotel, este logo chama outro pra carregar as malas. Verificando o local rapidamente, supunha que seu treinador já tinha se acomodado num dos quartos. A corredora pedira à Yoshiro para reservar três quartos, julgava que a violinista não ficaria à vontade dividindo um aposento. Ela mesma havia se preocupado desde que fizera o convite; tablóides contribuíam para que uma imagem nada inocente da loira fosse divulgada. Certamente Neptune sabia dos boatos.

- Nossa Michiru, quase veio uma mala extra para seus cosméticos... – espantava-se.

- Ah... Acontece que...eram coisas essenciais! – cruzava os braços.

- Vinte tubinhos de gloss? É, realmente todo mundo precisa disso. Sem falar nas outras coisas que nem sei o nome... – ria.

- O quê? Eu realmente só trouxe o essencial... Caso contrário você realmente teria uma mala beem grande a mais para trazer...

- I-Isso é o essencial? Kami-sama... – entrava no Hotel.

- É. – acompanhava-a.

- Ah, boa noite...nós queríamos um quarto...hã...dois quartos... – dirigia-se ao gerente, apelando para o sempre útil inglês – Bom...meu nome é Tenoh Haruka, eu liguei dia 10 para confirmar a... 

A reserva não é? Confere, dia 10... Reserva de dois quartos.” – dizia o gerente conferindo o registro no computador.

- Ah, que bom. Espere...dois quartos?! 

“Um para o Sr...Yoshiro Murata e outro para Tenoh Haruka...e só.”

- O quê?! “Aquele filho da....esqueceu de...Kami-sama! Vou ter que dividir um quarto com ela! O que vai pensar de mim?!” A-ah! Mas quando eu liguei eu pedi por...Er...bom, podemos mudar? – perguntou a loira, visivelmente constrangida.

- Hum... Acho que não vai ser necessário, obrigada – Neptune interrompia falando com o gerente, não queria que a velocista ficasse ainda mais constrangida por causa dela. – Não é? – sorria para Haruka.

- B-bom... corava.

- Ainda bem que seu rosto completa as suas frases. – ria – Não, pode deixar a reserva como estava, obrigada... – fitava o gerente antes de segurar a parceira por um dos braços.

Bem, tenham uma boa noite e estadia. Sr. Tenoh aqui está o cartão do quarto 506. Stuart acompanhe os jovens até o quarto, as malas estão logo ali.” – mostrava-as ao funcionário que rapidamente reunia os pertences.

- O-obrigado... – dizia, ainda pasma.

As duas garotas entram no elevador e Uranus permanece calada durante o trajeto. A atitude fora percebida por Neptune que preocupada, resolve perguntar.

- Ara...não me olhe assim...fiz mal? Você acha que ficou estranho?

- Não...é só que...bom, eu não esperava por esse mal entendido. – sorria.

-  Vamos...alguma coisa está te incomodando, não é?

- Só estou cansada... – sorria – Oe...chegamos.

Michiru observa a outra jovem em silêncio passando o cartão na porta do quarto. Olhando o funcionário, apontava rapidamente onde as malas seriam colocadas dando a gorjeta logo em seguida. Assim que o rapaz se retira do local, a violinista comentava:

- Haruka, alguma coisa está errada...e você não quer me dizer...

- É que...devia ter dado uma nota de cem pra ele...pelo esforço de carregar sua mala. – ria tentando distrair a outra.

- Ara...no seu convite não constava limitações de bagagem... – sorria – "Ela não quer me dizer...não adianta insistir nisso agora... Estaria hesitante em dividir um quarto comigo? E se fosse isso, qual a razão?" – pensou.

Haruka limitava-se a sorrir de volta, pensando se realmente tinha funcionado, estava um tanto apreensiva em dividir um quarto com a garota. Imaginava seu nome e o da garota estampados em revistas adolescentes. Provavelmente citando a jovem Kaioh como mais uma conquista. Sabia que os pais da garota não deixariam barato uma informação como essa. Seria mais seguro agir apenas como amiga de Neptune? Não seria fácil ignorar sua presença, principalmente estando sozinhas e afastadas dos olhares curiosos de seus compatriotas. 

- Oe...vou tomar um banho...ou quer ir na frente? – perguntava a velocista já na porta do banheiro.

- Não, não...pode ir... – ia em direção a varanda.

- Bom...então...não vale espiar... – piscava, antes de fechar a porta. A Sailor dos Mares sorria, voltando seu olhar para a cidade.

Minutos depois, Haruka saía do banho com os cabelos desalinhados, pois, sua memória falhara e esquecera de levar um pente ao banheiro. Nisso, colocava a tolha por cima do cabelo tentando esconder a rebeldia dos fios loiros.

- Maldito cabelo...

- O que disse? – virava-se distraidamente.

- Ah! Não olhe!

- Ora, depois reclama da minha bagagem... pois eu aposto que você esqueceu "alguma coisa"... – sorriu vendo a loira resmungar, sacudindo os cabelos, tentando enxugá-los. – Eu disse que só tinha trazido o essencial... – sorria, dando-lhe um pente.

- Você trouxe um cabeleireiro aí também? Meu cabelo está cheio de nós!

- Não, o gloss ocupou o espaço dele... – ri.

- Ainda bem que são curtinhos...

- E lisos. Você não viu os nós que o meu dá... – ri.

- Ok, ok...bom o banheiro é todo seu... – sentava-se na cama, terminando de pentear o cabelo. – Oe...

- Hã? – volta, antes de fechar a porta.

- Não vai colocar um aviso de "ocupado"? Bom, eu sem querer posso entrar e... – Michiru ria, antes de fechar a porta. Vermelha, imaginava a probabilidade de aquilo acontecer. Indagava se seria cedo demais para maiores intimidades. Uranus internamente perguntava o mesmo da sacada do quarto.  Contudo, mesmo insegura por estar dividindo um espaço com a bela garota, a corredora simplesmente não conseguia evitar tirar certas brincadeiras. 

"Ela está tentando não demonstrar... mas eu sei que tem algo a preocupando... Ah... o que eu faço?" – pensava Neptune, enquanto terminava o banho. Veste-se a sai, penteando os cabelos. 

- Eu não disse? – apontava o nó do cabelo.

- Não importa, você ficaria linda até com o cabelo cheio de nós de escota... – fitava-a da varanda sorrindo.

- Ara, nem diga isso... – agora corada, continuava a pentear mesmo não tendo mais nada para desembaraçar; por alguns instantes, esquecera-se do que fazia, enquanto a observava. Seu olhar parava no da loira, um ato quase sempre prazerosamente perigoso.

- Vamos, solte esse pente... – aproximava-se da jovem, tirando o objeto de suas mãos e passando os dedos pelo cabelo dela, em seguida se inclinava para cheirá-los. Neptune fechava os olhos, deixando-se guiar pelas sensações de estar nos braços de Uranus, que agora cheirava o pescoço da amante. – Por que ainda fica coradinha quando faço ou comento certas coisas, Michiru? – questionava vendo a garota corar.

- Em... um momento como esse, você não vai ouvir nada coerente de mim... – ria.

Uranus a beija finalmente, e, enquanto uma mão está na cintura, a outra caminha para a blusa da garota, afastando um pouco a gola para ter mais acesso ao pescoço. Seus últimos movimentos conscientes estavam se esvaindo, quando o telefone toca. Michiru fazia menção de virar o rosto, contudo a velocista não admitiria interrupções e uma das mãos fazia com que a jovem olhasse novamente para ela, rendendo-a aos seus beijos. Ao sétimo toque, a velocista suspirava, indo atender a ligação. Esperava ser realmente importante. Neptune, sentindo um vazio repentino, sentava na cama acompanhando a parceira com o olhar.

“Alô? Ah...Yoshiro. Sim, sim...amanhã que horas? Seis? Que horas o motorista vai...ah, estarei aí então. Até amanhã...” – a loira desligava, para em seguida sentar frustrada na cama.
- O que foi? – Michiru a via deitar subitamente na cama, encarando o teto.

- Amanhã tenho que estar no autódromo às seis horas. Depois, provavelmente enfrentarei uma coletiva de imprensa...odeio isso..."eles" nunca se limitam em perguntar só sobre sua carreira.

- Ajuda pensar que eu estarei com você? – ria, deitando-se ao seu lado.

- Muito... – sorri – Mas não é uma boa idéia ficar "assim"...

- Como? – realmente não tinha entendido; se distraíra, fitando Haruka.

- D-deitada perto de mim...posso te atacar a qualquer momento – ria – E não vai ter escapatória... – Michiru corava, ainda não encarava a loira.

- Eu não ia insistir...mas definitivamente tem algo te incomodando...Por que não quer me dizer o que é?

- Adoro ter você ao meu lado...mas é que...é que...não confio em mim...essa situação...você tão perto... – parava de falar e virava a cabeça para o lado oposto dela – Não quero tenha uma impressão errada de mim...é só isso.

- Ei...não diga isso... Eu estou aqui, porque quis... – falava, preocupada – Gomen ne... eu fiz mal em ter dito para não mudarem a reserva...

- Você não fez mal... – volta a encará-la – Como eu disse, ter você perto de mim é um sonho...m-mas isso mexe comigo... – ria, sem jeito – Gomen... –  levantava-se devagar da cama.

- Não só com você... – cora – Mas... eu confio em você. – sorri – Não há motivos para ficar assim... – a corredora mais tranqüila, suspirava antes de sentar-se novamente.

- Esqueci que não comemos nada desde que chegamos. O que vai querer? – fitava Neptune enquanto pegava o telefone.

- Ah... se puder pedir por mim, eu agradeceria. 

- Claro. “Por favor...pode servir o jantar aqui no quarto 506? Ah, sim sim...aceito a dica. Ok, obrigado.” Michiru, por causa da corrida provavelmente não terei tempo pra passear... Sinto muito... – falava logo depois de desligar o telefone.

- Quando aceitei o convite, “conhecer a cidade” estava em segundo plano... Ou terceiro, ou quarto...

Dizia gentilmente. Com um sorriso, encostava a cabeça nas costas de Haruka, que suspirava mais aliviada.

- A viagem tirou minhas forças... – a loira passava uma das mãos no ombro, massageando os músculos.

- Lembra o que falei? Deveria ter dormido no avião. – Michiru sorria e Haruka concordava com a cabeça. Neptune não saberia, mas a loira estava vermelha. Conversara a viagem quase toda numa empolgação que nunca experimentara. A violinista estava acompanhando-a afinal. – Está tensa realmente.

Pequenos arrepios corriam pela espinha da corredora, enquanto a outra Sailor passava os dedos pelas suas costas.

- Michiru... – balbuciava a velocista, tentando compartilhar naquele instante os sentimentos que lhe preenchiam a alma. – Faça figa pela minha vitória, o prêmio não é nada mal... – concluía, acovardando-se.

- Hai... não vou tirar os olhos do seu carro amanhã... – abraçava-a, ainda por trás. Uranus olhava de soslaio desfrutando do agradável contato. – Haruka...?

- Hum?

- Yoshiro-san...ele sabe que você...bom, é uma...

- Garota? Sim, ele descobriu quando tive que apresentar meus documentos. Muitas vezes ele resolve burocracias pra mim. O interessante é que ele não pareceu surpreso quando descobriu... acho que, contanto que eu continue ganhando as corridas, está tudo bem. – dizia, seguido de uma risada. Michiru acompanhava, antes de Uranus continuar – E você...sempre soube?

- Bom, sim...considerando que só mulheres podem ser guerreiras... Além disso, seria um tanto bizarro homens lutando com aqueles uniformes – ria, brincando.

- Na verdade eu acho que o fato de nós mesmas lutarmos com essa roupa, já tira cinqüenta por cento de uma possível intimidação para com os inimigos.

- Tem razão... – ria – Mas isso não importa, desde que eu esteja lutando ao seu lado... – um sorriso dava forma aos lábios da violinista. A frase de Neptune pareceu ser o combustível para que Uranus continuasse.

- Oe...

- Sim?

- S-Sabe...dos meus sentimentos por você, não sabe? – Michiru erguia a cabeça, surpresa. E, antes que o silêncio pudesse preocupar a loira, foi cortado por Neptune.

- E...você dos meus, Haruka... – revelava trêmula, segurando-se na camisa da parceira.

Naquele momento, a corredora achava-se a maior das covardes. Errou ao fazer aquela pergunta. Michiru devia estar esperando uma afirmação, não uma indagação. Sentia-se mal ao pensar na coragem da outra jovem dias atrás, confessando-lhe custosamente sentimentos que devia guardar a sete chaves. Queria tanto ter a mesma postura. Talvez não estivesse se esforçando mesmo para tal. E odiava saber disso.

- “Parece que voltamos dez passos na relação. Será que se sente obrigada a confessar algo?” – Neptune suspirava antes de falar – Haruka... sabe, eu não quis forçar as coisas dizendo tudo aquilo no autódromo. Fui impulsiva...

- Não se preocupe. Eu é que estou te deixando confusa aqui, sinto muito...

- Tudo bem... só preciso saber se confia em mim. – abraçava-a.

- É claro, princesa... Até por que... se eu disser que não, estou sujeita a um mata-leão, né? Quer dizer, você aí atrás...

- Exatamente. – ria – Embora este golpe ainda não faça parte dos nossos treinos.

- E o que esperamos? – virava-se, deixando seu rosto a poucos centímetros do da violinista.

- Ara... o que está fazendo? – Neptune sorria ao notar as mãos da corredora deslizarem pelas suas costas, e em seguida por debaixo da blusa.

- Ué, só conferindo se não ficaram cicatrizes daquela luta...

- Seria mais fácil perguntar...

- Mas não prazeroso. – piscava – Essa posição está ficando complicada pra mim...

- Tem razão, se levar uma tapa por seu atrevimento não poderá nem se defender... – ria.

- A tapa é o preço? Parece um bom negócio... – beijava-a, abafando o riso da outra jovem.

- Hum, você não sabe como fez mal em me avisar sobre isso...

- Vai me bater, Michiru? – parava por um momento, sorrindo, encarando a jovem que se aproximava dos seus lábios novamente.

- A não ser que me dê motivos muito sérios... – beija-a – Mas ainda não está nos meus planos...

- Você...usa roupas demais princesa... Hum... – sorria cinicamente ao encontrar a lingerie superior da jovem – Não vai me ajudar?

- Concorda que fica meio complicado eu ajudar? – ri – Ara...você consegue...

- Bingo. – com delicadeza a velocista tira a peça enquanto beija a Sailor. – Estou pronta pro tapa. – Michiru ria, ainda ruborizada pela situação.

- Eu... não vou fazê-lo... – desvia o olhar. Naquele momento estava realmente decidida a aproveitar cada minuto com Haruka. Deixou-se levar pelos beijos de Uranus que logo desabotoava a blusa da parceira.

- Queria ter o poder de... – duas batidas na porta distraíram momentaneamente a corredora.

- "Não Michiru, você não ouviu nada...é só a sua imaginação..." Poder do quê?

- O poder de... “Não é possível... Maldição.” É melhor eu ver o que é.

- Hai. "Sinceramente...não tinha hora melhor não?".

- “Ah, ok...ok...pode colocar na mesa por favor...” – já na sala vira o funcionário entrar com o carrinho do jantar.

Uranus olhava com irritação o rapaz, que a encarava sugerindo gorjeta. Suspirando, tira uma nota de um dos bolsos, bem menos do que deveria ser a gorjeta, um capricho que se deu. Ainda não perdoara a breve e incômoda visita do moço. 

- Inoportuno... – Neptune falava baixo no quarto, terminando de abotoar sua blusa. Aquele momento de intimidade não recomeçaria, pelo menos não tão cedo.

- Michiru...

- Hum? 

- O jantar...chegou...

- Hai... – sentava à mesa – Eu tinha esquecido do jantar... – ri.

- E eu tinha esquecido de tudo minutos atrás... – sorria. Neptune retribuía corando levemente. – Puni o infeliz por ter atrapalhado nossa...conversa.

- O que fez?

- Digamos que com a gorjeta, ele vai mascar bastante chiclete...

- Pobre funcionário – ria – Sempre se vinga assim de quem atrapalha suas conversas?

- Isso sempre depende com quem estou falando... – Uranus tomava a liberdade de pegar a mão da violinista, beijando-lhe a palma. Retribuindo com um sorriso, Michiru pensava que de maneira alguma fora uma má idéia acompanhar a loira, afinal.

- Oe...

- H-hum?

- Eu não me recordo de você estar com blusa quando saí do quarto... – ria, provocando-a.

- Não estaria, se alguém não tivesse saído... – Uranus passava a mão pela nuca, um tanto sem graça.

- Maldição... olha a hora. É tão tarde e tenho corrida logo cedo... se não dormir agora vou ter problemas amanhã... Isso sem falar nas fotos, coletiva...e sei lá mais o quê!

- Calma...coma alguma coisa, nós não comemos nada desde que chegamos aqui...daí sim você dorme, ok? 

- Hai. – suspira.

Terminando o jantar, Haruka logo em seguida se troca e deita-se na cama, observando a outra jovem que terminara de se trocar no banheiro. Protegida pela escuridão do quarto, Uranus sorria ao fitar as belas formas de Neptune, sua delicadeza ao passar cremes pelo braço e por saber, felizmente, que podia tocá-la.  Michiru por sua vez, encarando seu próprio reflexo no espelho do banheiro, penteava os cabelos. Só agora parecia assimilar tudo o que tinha acontecido desde o dia no autódromo. 

Tudo se passara tão rápido, mas ela nunca estivera tão feliz...e foi com essa expressão que ela saiu do cômodo, indo em direção a cama, pensando porém, que velocista já estivesse dormindo. E, assim que a garota se aproxima da cama, Haruka a agarra, fazendo-a cair por cima dela.

- Haruka! Pensei que estivesse dormindo! – ria.

- Ora, é a última coisa que quero fazer quando estou perto de você... Eu vou dormir sim, assim que me der um beijo... – A Sailor dos mares fitava-a com malícia, beijando-a por fim.

- Eu também não queria dormir, mas... – sorrindo, a jovem se aconchega no corpo da outra. – Eu não queria ser tão... sentimentalista, mas acredita que às vezes eu ainda me pego perguntando se isso é um sonho? 

- Posso acordá-la com um beliscão... Aliás, posso morder se você deixar... – falava, maliciosamente.

Michiru riu.

- Hum...melhor não... é um risco muito grande acordar...

 - Deixemos assim...mas só por hoje, porque realmente tenho que dormir princesa – sorria.

- Ah...oyasuminasai. E que amanhã o vento te acompanhe, ‘Ruka.

Ao ouvir a jovem, Uranus abraça-a e logo em seguida beija-lhe a testa, como se naquele momento tudo que lhe perturbava, suas dúvidas, seus medos e inseguranças tivessem saído com o mesmo vento que movia as cortinas brancas do quarto. Por mais difícil que fosse a missão delas, era reconfortante olhar para o lado e saber que Neptune a seguia. Sempre.

(continua)

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Capítulo 4 – Quando o vento encontra o mar (parte 2)

Capítulo 4 – Quando o vento encontra o mar (parte 2)

Alguns milésimos de segundo transcorreram até que os lábios da violinista correspondessem ao beijo de Uranus. A respiração pesada da loira fora a transição da primordial delicadeza à urgência que o ato ganhou. Os constantes sons provenientes do ambiente foram, aos poucos se dissipando, como as cores de uma tela diluída por solventes...
Ao longe, som de uma buzina, seguido pelo ruído característico de velocidade dos automóveis. Nem mesmo a intermitente agitação do mar pôde tirar as jovens do transe, e Michiru expunha naquele beijo o que quase à lágrimas, falou no autódromo. Amava Haruka.

De cerrados, os olhos verdes da velocista agora observavam o rosto à frente. Vermelho. Então, tirando uma das mãos que acariciavam a face da outra jovem, empurra-a levemente, perplexa pelo que acabara de fazer. Acreditava ter estragado o relacionamento com a bela Neptune. Amaldiçoava sua impulsividade.

- Michiru! E-eu...mil perdões... – se afastava um pouco –  Eu estraguei tudo... – ruborizara, mal conseguia encarar Neptune. 

A violinista, que estava pasma e ofegante, olhava a corredora com uma das mãos sobre os lábios, tentava formular uma frase coerente. Não podia acreditar que aquilo ocorrera. O beijo, apesar de curto, fora intenso. E muito melhor do que havia imaginado.

- Haruka... eu... quero dizer... não estragou.. só...

- Eu...sei que estraguei Michiru... Eu não queria forçar nada, é que...é que...eu sei que é uma péssima desculpa...mas não pude evitar...aliás, eu não quis evitar...me desculpe, sinceramente... – seu rosto queimava de vergonha. Continha sua reação, apertando com as duas mãos o tecido da calça.

- Haruka... – tocava levemente seu rosto, fazendo-a olhar para ela, tentava se recompor – Você não tem pelo quê se desculpar... nesse tempo todo eu pensei que você não... – hesitava, ainda não conseguira assimilar completamente o que se passava.

- Eu não o quê...? – olhava-a confusa.

- Eu pensei que você não... partilhasse dos mesmos...Eu não sei como te dizer isso... – a fitava tentado se expressar o melhor que podia. Ainda não lhe parecia real que aquilo que ela tanto sonhara estava acontecendo.

- Você tem ocupado meus pensamentos. – suspirava, antes de falar finalmente confiante – Agora entendi o que Yoshiro disse sobre "estar longe"...na verdade, eu estava com você. Em meus pensamentos... – se aproximava mais uma vez, dessa vez acariciando o rosto dela.

- Então nós devíamos estar juntas em nossos pensamentos... – sorri – Eu também compreendi porque tenho me perdido tanto nas minhas músicas ultimamente... Tentei evitar certos assuntos porque tive medo de não conseguir esconder meus sentimentos por mais tempo. Desde aquele dia no autódromo...Eu tive certeza de que não me enganara quanto aos meus sentimentos. Mas depois, eu achei que, se você notasse o que eu sentia, se afastaria de mim... E eu não posso suportar essa idéia...

- Aquilo me deixou confusa, eu até pensei que tivesse entendido errado o que você tinha falado naquele dia, tudo estava acontecendo tão rápido, acho que não assimilei. Mas depois, começamos a treinar...e...passar tanto tempo juntas...que um único dia sem falar com você era...insuportável. Fiquei com medo que tivesse se arrependido por ter falado aquilo pra mim...  Foi então que me dei conta...não queria tirá-la dos meus pensamentos

- Eu me sufocava pra não te dizer tantas coisas... pra não contar... Tinha tanta certeza que não era correspondida que levei tanto tempo para desconfiar de algo... Eu só... só queria estar com você...

O breve e confuso desabafo mudou os semblantes das jovens. Agora sorriam, timidamente. Em meio a toda aquela desordenada conversa puderam se encontrar e entender...compartiam dos mesmos sentimentos.

- Michiru... – beijava-a agora demoradamente, passando a mão pelos seus cabelos...como se estivesse desesperada para tocá-la, talvez acreditando que aquilo fosse durar uma noite só. Afinal não sabia o que esperar da missão que lhe fora designada. A outra jovem deixava-se envolver pelo contato, retribuindo o carinho sentindo os olhos embaçarem. 

- Haruka... por tanto tempo eu quis dizer que... me apaixonei por você.  – dizia calmamente vendo a expressão surpresa da loira. 

- Mas que coincidência, atiraram a flecha bem aqui também... – sorria, colocando a mão de Michiru sob a sua, junto ao peito. A bela violinista ouvia atentamente, ruborizando pela sutil confissão, antes de render-se ao beijo da loira. Seu amor, que ela julgava impossível, se tornara real. Ainda de olhos fechados, Neptune abraçava-a, absorta o suficiente para não assimilar a pergunta da parceira.

- O que...disse? – indagava, agora fitando Uranus.

- No que pensava? – ria.

- A-ah...em tantas coisas...

- Vamos Michiru, divida comigo... – fitando-a com malícia, Uranus sorria.

- Ara...devia saber que eu não raciocino direito perto de você... e dos seus lábios então... – dito isso, Neptune conseguira desarmar Haruka, que agora cobria as bochechas. Sabia que estava vermelha. – Ora, acabei de descobrir seu ponto fraco?

- Eu disse que não era tão difícil, não disse? – ria, recuperando-se – Tinha perguntado se não teria problema voltar tarde para casa. Por mim ficaria aqui a noite toda, mas.... Como filha única dos Kaioh, me espanto como deixaram a senhorita sair com uma pessoa de fama horrível como a minha...

- Hum...digamos que a impressão que você causa supera qualquer fama – sorria – Ahh... – abraçava-a o mais forte que conseguia – Eu não vou conseguir ficar longe de você...

- Está decidido, vamos morar na praia. – logo piscava para a Sailor, que ria. – Agora mudando um pouco de assunto, sobre a viagem, você vai poder mesmo? Porque seus pais...bom, a viagem é comigo...eles podem não concordar...

- Hum...eu ainda acho que não teremos problemas com isso... quero dizer, eles não vão saber uma parte disso – ri.

- Bom, mas é complicado se você não contar a seus pais...eu não quero causar atritos com sua família...quer dizer, vocês têm um nome à zelar e...

- Pare com essa ênfase no "eu". Não há nada errado nisso...e ah, não há porque contar nada ainda... Não me julgue pelo nome da minha família, Haruka...

- Gomen Michiru...é que realmente não quero causar problemas...

- Mas você não vai! – sorria – É só uma viagem, afinal... eles não vão ter o que dizer sobre nada. Veja, daqui a um tempo, contarei aos meus pais...só não vamos apressar as coisas...

- Entendo...bom, mas me preocupo com um pequeno detalhe dessa viagem...

- Detalhe? Que detalhe?

- Preciso te avisar que...

- Que o quê? – olhava-a apreensiva.

- É um perigo ter você perto de mim, princesa... – ria – Já é um perigo nós duas sozinhas nessa praia...

- Princesa? – cora.

- Te...incomoda?

- Não...é só que... – ria.

- P-por que ri? – olhava-a confusa.

- Estou rindo de... de nós... Ah, eu não faço sentido mesmo, esqueça – sorri. 

Neptune referia-se a situação em si. Nunca imaginou, depois dos encontros amargos com a loira, que se divertiria assim. Agradecia internamente por não ter se enganado sobre quem amava. Uranus arqueava uma sobrancelha em confusão. 

- Me diga uma coisa Michiru, como estão os ferimentos? Ficaram marcas?

- Ah, já sumiram praticamente, graças a você... – sorri – É...são coisas com as quais nós teremos que conviver agora, com essa missão...

- Tem razão... Aquela criatura que você matou no autódromo, eu nunca tinha visto nada igual...e aquele espelho seu, o que ele mostra?

- Mostra quando algo ruim se aproxima...ele mostra os inimigos, mas nem sempre nitidamente...

- Entendo...foi por isso que foi no autódromo de repente naquele dia?

- T-também... – Neptune baixava a cabeça um tanto envergonhada. A loira sorria. Entendera que fora naquela tarde para protegê-la também.

- Está ficando tarde...vamos para o carro?

- Sim, sim... – levantava-se, mas, antes de se virar e ir para o automóvel, olha mais uma vez no horizonte. Seu semblante era terno e a jovem mais alta notara. Entrelaçando seus dedos com os dela, a pianista sorria. Parecia agradecer ao companheiro, que passeava suavemente, ora pelo tecido fino de sua blusa, ora pelos cabelos ondulados de sua parceira.

- Assim eu vou ficar enciumada... – deixava escapar, quase num sussurro.

- Hum? Ciúmes de quem? – via a companheira colocar a mão na boca, tossindo, tentando disfarçar.

- N-Nada, só pensei alto...

- Ara... – sorria, antes de beijá-la novamente. 

- Droga, mesmo sentando em cima dos sapatos, minha calça está cheia de areia...

- Meu vestido não saiu intacto também.

- Ora...e por que não o tirou? – entrava no carro, olhando-a de soslaio, disfarçava um sorriso.

- Eu e minha boca ... – corava, entrando no veículo também.

- É...você e sua boca...

- Deixar-me vermelha virou hábito agora? – ri.

- Eu diria que é mais um...hobby – piscava para a garota, que tornava a sorrir – Sabe Michiru...nunca foi tão prazeroso dirigir...

- Agora você me surpreendeu...Hum...sabe no que eu pensei? Eu acho que vou ter um colapso em Mônaco – ria – Você já "voa baixo" com esse seu carro...nas pistas então...

- Não se preocupe...eu terei cuidado...porque agora tenho pra quem voltar e comemorar...

O comentário provocara rubor nas bochechas de Neptune, que sorria enquanto fechava os olhos, saboreando o vento em sua face. Aos poucos o cheiro de maresia e o som das águas cessavam e davam lugar ao barulhento trânsito de Tóquio. 

[...]
- Infelizmente...chegamos Michiru...está entregue. Confira se alguma parte do corpo está faltando... – ri.

- Ara, se estiver, eu saberei com quem procurar... – aproximava-se, beijando a bochecha da loira.

- Está bem, eu não ia falar, leva teu coração de volta...mas devolva o meu primeiro – brincava.

- Oh, ok...

- Você disse que queria "passear de carro à beira do mar" hoje pode ser considerado uma realização do seu pedido? – Michiru a olhava surpresa. A loira tinha realmente lembrado do que dissera no iate.

- Não "pode ser considerado" apenas... É. – sorria para a outra jovem, que ouvindo as palavras da Neptune, não pôde conter um discreto sorriso.
 
(continua)