terça-feira, 12 de novembro de 2013

Capítulo 25 – Quebra-cabeça (parte 1).

Capítulo 25 – Quebra-cabeça. (parte 1)

- Não pode ser... – disse Neptune olhando para o Aqua Mirror. – Deveria estar aqui, eu ainda sinto a presença. Está fraca, mas sinto.

A algumas quadras do Mugen, Uranus e Neptune investigavam uma ruela deserta. Parecendo mais um beco, ela exiba vários cubículos de madeira um ao lado do outro. Por sorte, ali só funcionavam pequenos bares, que só abriam à noite.

- Isso é muito estranho. – falou Uranus aproximando-se por trás da parceira, dando uma olhada no espelho dela. – O Aqua Mirror deu pra pegar peças agora? Está na hora de trocar a pilha dele, Neptune.

Por mais que Haruka soubesse o quanto Michiru se aborrecia ao ouvir piadinhas sobre seu espelho, às vezes ela simplesmente não podia evitar provocá-la. Aos olhos da corredora, o beicinho que a violinista se esforçava em esconder só a deixava mais fofa.

- O Aqua Mirror não é um brinquedo de lojinha para crianças, Uranus. Além disso, ele nunca falhou antes. – respondeu a outra friamente, sem tirar os olhos do objeto. – É como se a criatura estivesse nesse local, mas ainda não tivesse...despertado.

- Como se esperasse um hospedeiro?

- Exato. Deve estar em uma forma que ainda não conseguimos identificar.

- Mas o que podemos fazer? Não dá pra ficar aqui o dia todo. Sem contar que estamos em plena luz do dia vestidas...desse jeito. – comentou a loira puxando a borda da saia.

- Você tem razão. Voltaremos à noite, então.

- Que droga, hein? – resmungou Haruka cruzando os braços. – Como se eu não tivesse mais nada pra fazer nesse horário.

- A culpa não é minha se o demônio não pode ser agendado em seus compromissos. – Neptune retrucou seriamente, mas Uranus riu alto, achando graça do comentário.

Neptune vasculhou a área por uma última vez antes de voltar à sua forma habitual. Uranus a imitou e logo as duas estavam correndo de volta ao beco onde deixaram as pastas.

[...]

Takeo abriu a porta de casa com impaciência. Mal parando de andar para tirar os sapatos, quase caiu no processo. Não querendo ser visto pela mãe, o garoto pulou o costumeiro “Tadaima!” e adiantou-se para o seu quarto. Quando chegou no meio do corredor, uma figura pequena saltou do banheiro com um grito.

- Mas que susto, Ryuji! – exclamou Takeo largando as pastas no chão. O coração prestes a fazer um bungee jumping involuntário e saltar pela boca. As risadas do irmão só fizeram o susto se dissipar e dar lugar a uma crescente irritação.

Ryuji tinha sete anos e adorava o irmão mais velho. Frequentemente, ele inventava jeitos novos de assustar Takeo. Com um nível de paciência incomum para uma criança, ele era capaz de se esconder em qualquer cômodo por vários minutos e só sair quando avistasse o irmão. Se o plano envolvia a cozinha, o susto quase sempre resultava no lanche de Takeo esparramado no chão. E uma bela bronca, em seguida.

- Okaeri! – o menino cumprimentou animadamente e Takeo apenas balançou a cabeça em desaprovação, ainda irritado pelo susto. Enquanto se abaixava para pegar as pastas, ouviu o menino perguntar:

- Por que você tem duas pastas, nii-chan?

- Essa aqui é de uma amiga do colégio que acabou esquecendo de levar. Achei melhor trazer pra casa e devolver amanhã. É mais seguro. – respondeu o rapaz, optando por uma meia verdade. – Onde está mamãe?

- Na casa de Koyama-san.

Takeo suspirou profundamente. Quando a mãe estava na casa da vizinha, nem tão cedo voltava. O assunto entre as duas parecia ser infindável.

A ausência de sua mãe também significava ter de lidar com um pequeno, mas persistente problema: seu irmão menor.

Resolvendo ignorar o menino, o rapaz atravessou o corredor e Ryuji o seguiu, muitíssimo interessado em saber o que o irmão iria fazer. Notando os passinhos atrás de si, Takeo virou-se e fitou o garotinho.

- Por que está me seguindo, Ryuji?

- Ontem você prometeu que quando chegasse em casa, ia passar aquela fase de Super Mario World pra mim! – explicou o menino com tom aborrecido.

Ishikawa fechou os olhos por uns segundos, lembrando-se da tal promessa. Devia ter mais cuidado ao fazê-las a uma criança. Elas sempre cobram por elas.

- Escuta, Ryuji... – falou o rapaz calmamente, passando uma das mãos pelos cabelos do menino. – Agora eu não posso... – Ishikawa viu o desapontamento do irmão e logo tratou de acrescentar – Mas, se quiser, faço agora aquele sanduíche que tanto gosta. Certo?

O garotinho calou-se e considerou a proposta por um momento. Takeo segurou a risada. Aparentemente, era uma decisão difícil para ele.

- Certo. – respondeu Ryuji.

Deixando as pastas encostadas na parede do corredor, Takeo se dirigiu até a cozinha com o menino em sua cola. Previu aborrecimentos caso não fizesse a vontade do irmão naquele momento. Afinal, queria paz enquanto estivesse vasculhando a pasta de Michiru.

[...]

- N-Nós...fomos roubadas? – Michiru perguntou mais para si mesma do que para Haruka. O tom era de incredulidade.

As duas haviam chegado ao beco e vasculhado o contêiner à procura das pastas. A violinista ainda estava agachada, passando a mão por trás do objeto.

- Obrigado, humanidade. – disse a corredora em tom irônico olhando para o céu . – Acabamos de arriscar nossos traseiros pra te salvar e é assim que retribui?

- Você não parece muito preocupada com as nossas coisas, Haruka... – Michiru franziu o cenho, irritada.

- É claro que eu estou. – respondeu a outra cruzando os braços. – Por outro lado, e se uma pessoa decente viu nossas pastas e simplesmente devolveu ao Mugen?

Michiru colocou uma das mãos no queixo e ponderou, antes de falar:

- É, pode ser. Afinal as pastas possuem o emblema do colégio. Mas ainda fico muito desconfortável ao pensar que alguém pode estar com nossas coisas e não tem a intenção de devolver...

(continua)